domingo, 15 de fevereiro de 2015

Monte Roraima - Eu fui !!!

Amigos,





Eu fui ao topo do Monte Roraima e, como prometido, vou relatar um pouco dessa experiência.

Não é uma aventura cara. Na verdade o mais caro foram as passagens aéreas. Gastei um valor significativo com "equipamentos" que eu não possuia, mas que são reaproveitáveis. Em outras palavras, nao foi um investimento que fiz apenas para esssa viagem, será reaproveitado.

O que chamo de equipamentos: lanternas, bota, mochila, cinto tático, cantil, talheres dobráveis, canivete, calças táticas, isolante térmico, saco de dormir, pederneira (que eu nem cheguei a usar), sacos estanques, capa de chuva tipo poncho, roupas de frio, bastões, mosquetões, papete, meias, etc.

Se eu já tivesse isso (e mais umas coisinhas que comprei), nao precisaria nem ter desembolsado tanto.

Como disse a aventura não é cara (tirando as passagens de Fortaleza/Boa vista/Fortaleza). Pra vocês terem uma idéia, um real estava valendo 50 bolivares. Eu estava praticamente rico na Venezuela kkkkk.

Tudo começou com a saída de Fortaleza. Não existe vôo direto para Boa Vista. O avião passa por Brasilia e Manaus, fazendo o caminho inverso na volta.

Backpakers, em Sta. Elena
(carro que nos levou ao Parque)
De Boa Vista é preciso viajar até Pacaraima (na fronteira com a Venezuela), carimbar o passaporte no Brasil e na Venezuela (os postos são próximos), depois viajar até Santa Elena de Uiarén (não tem "H" mesmo).

Chegando em Santa Elena fomos para a empresa previamente contactada (Backpackers) e pernoitamos lá para, no dia seguinte, partirmos para o Parque Nacional Roraima.

Falei no plural "pernoitamos" porque a equipe era formada por 7 brasileiros. Quando chegamos na Backpakers nos juntamos a um casal de suíços, um casal de franceses, um alemão e um venezuelano.

Toda equipe, brasileiros e europeus.
Havia cerca de 8 ou 10 índios que foram nossos guias, cozinheiros e "portadores" (ajudavam no transporte do nosso peso individual, barracas e mantimentos).

Cada um de nós pagou 650 reais pelo serviço da Backpackers, incluidas aí três refeições diárias nos 5 dias (quase 6) de caminhada e barracas.

Os portadores custaram 300 reais. É o seguinte, um índio leva até 15kg pra você. Sendo assim, eu e um amigo entregamos aproximadamente 7kg cada um para um único carregador, pagando 150 reais cada um. É o suficiente, dá tranquilamente pra "rachar" um portador com alguém.

A partir do momento que somos levados ao Parque Nacional Roraima, depois da última refeição numa mesa (kkkkkk), começa uma caminhada constante.

No primeiro dia a caminhada leva toda a tarde, até o acampamento do Rio Tek. Quando chegamos lá nossos portadores já haviam chegado, estavam preparando uma refeição leve e armando as barracas (que abrigam 2 pessoas cada).

Tomamos banho no rio com água bastante fria (alguns de nós, incluindo eu) e partimos no outro dia bem cedo, após um café da manhã. A caminhada do primeiro dia é de cerca de 11km.

Não sei se é uma coisa da Backpackers (havia empresas que cobravam mais caro pelo mesmo passeio) ou se todas elas são do mesmo jeito, mas se você tiver muita besteira com comida, vai sofrer, porque a qualidade não é das melhores.

Fazendo uma média dos dias, comemos:
- nissin com atum;
- papa de aveia com cereais;
- verduras com atum;
- nissim com carne enlatada;
- chá e café super diluídos, quase transparentes;
- um bolinho frito, feito pelos índios com alguma massa que nunca consegui descobrir;
- Ki-suco;
- sopa;
...... e por aí vai, sem variar muito.

Não é possível exigir uma cozinha refinada nessas condições, mas acredito que dava pra fazer algo melhor.

Acampamento base
Da esquerda: Igor, Suellem,
Luiz, Aluizio e eu
A caminhada no dia seguinte é pela manhã até chegar no acampamento base. Tem esse nome porque fica na base do Monte Roraima. São cerca de 10km.

Lá o banho acontece num rio também, muuuuuuuito mais gelado do que o primeiro. Tão gelado que quado você entra na água, em menos de um minuto suas pernas começam a ficar dormentes e você não sente mais nada kkkkk.

Descansamos o resto do dia (que passou rápido). Após dois dias de caminhada eu estava com uma bolha gigante na sola do pé direito. Eu estava usando uma bota Timberland, cuja palmilha é superfina, o que causou abrasão da pele, apesar da meia. 

Me arrependi amargamente de não ter comprado uma palmilha de gel. Aquela bolha e duas unhas machucadas me perseguiram durante toda a viagem, diminuindo meu rendimento e me obrigando a fazer curativos diários.

Acordamos cedo no terceiro dia para a subida. São 9km andando pela lateral do paredão até chegar no topo. 

Subida do paredão
Enquanto que nos 2 primeiros dias a vegetação é de savana, nesse terceiro é uma selva de altitude, com muitas pedras e uma subida super íngreme e estreita, cheia de pedras soltas, chamada de Paso de las Lagrimas.

Lateral da montanha

Eu diria que o nível de condicionamento físico exigido é médio. Alguém completamente sedentário deve pensar duas vezes antes de ingressar na jornada, mesmo que passe todo seu peso extra (mochila) para um índio.

Chegamos ao topo por volta das 13:00h. Como o ritmo de marcha de cada um é diferente, a equipe foi chegando aos poucos, mas estávamos todos juntos às 14h.

Água para beber não é um problema, salvo no primeiro dia de caminhada porque não temos rios até chegar ao Tek. Depois é tranquilo. Aconselho levar Clor-in, uma pastilha que trata a água do cantil e deixa potável depois de meia hora (pelo menos é o que dizem na embalagem rsrsrs).

Tem muita água disponível depois do primeiro dia de caminhada, durante a subida, descida e no topo.

Vista do topo, a partir do Maverick
(ponto mais alto do Monte)
Pernoitamos, passamos mais um dia no topo e descemos na manhã do dia seguinte, numa caminhada dobrada.

Saímos do topo e caminhamos direto ao Rio Tek, parando no acampamento base apenas para uma breve refeição, fazendo os dois dias de caminhada inicial, num único dia. 

Enquanto estou lembrando, aconselho que, ao invés de papete, comprem Croc's. Durante todo o percurso existem muitos trechos com água e os pés cansam de usar bota. Minha bota era impermeável, mas minha papete era de couro. Isso me atrapalhava muito porque eu sabia que se molhasse o couro da papete ela ia se desmanchar toda.

Outro angulo do Maverick
Eu indico Croc's porque foi o calçados que TODOS os índios da equipe usaram, do começo ao fim. Croc's e meias. O índio guia, os carregadores, todos eles usavam Croc's e meias grossas, tipo de futebol e andavam super rápidos. Fiquei com tanta inveja desses croc's que quando voltei para Fortaleza comprei um pra mim. Se soubesse que eram tão bons não tinha gastado 500 reais numa bota. Tinha ido de Croc's, do começo ao fim,  kkkkkk.

Eu ficava impressionado com a força e agilidade daqueles nativos, carregando tanto peso. Na verdade eles levam muito mais que os 15kg que lhes passamos; carregam em torno de 40kg e ganham muito pouco por isso. É legal juntar uma grana com seus amigos para recompensá-los ao final (inclusive é um costume).

O uso de banheiro, durante toda viagem, é bem interessante. É um tipo de barraca mais alta e estreita, com uma espécie de banco (estrutura de metal) e uma tampa de sanitário. Você faz o "serviço" dentro de um saco de plástico que você coloca sob a assento, joga uma mão de cal dentro, amarra e deixa do lado de fora dessa barraquinha.

Aconselho o uso de lenços umedecidos infantis. É uma maravilha, ocupa pouco espaço, não rasga e deixa tudo cheiroso kkkkkkkkkkkkk.

Apesar de ser proibido deixar lixo e fezes no percurso, não é essa realidade que vemos nos arredores dos acampamentos. Infelizmente os visitantes e próprios nativos desrespeitam essa regra.

Depois desse parêntesis enorme, cotinuo a narrativa......... Voltando do topo, dormimos uma noite novamente no Rio Tek, voltamos ao ponto de partida no dia seguinte e aguardamos a chegada nos carros para nos levar de volta a Santa Elena de Uiaren.

Na viagem de volta a empresa Backpackers nos levou para um almoço muito bom na estrada, numa espécie de centro de cultura indígena onde finalmente comemos numa mesa, sentados, uma comida boa.

Agora vou lançar uma série de observações que acredito serem importantes:
- Tomar vitamina B12 durante a viagem parece que reralmente funciona no nosso suor. Não fui picado pelo "temido" micro mosquito Puri Puri e não precisei usar repelente;
- Usar palmilhar de gel é extremamente necessário;
- Usar bastões de trekking é indispensável, especialmente nas subidas e descidas. Economiza muito joelho e previne quedas e escorregões;
- É bom levar remédio para alergia, antiséptico, relaxante muscular, remédio para dor de garganta (por causa do frio), antitérmico, bandaid, esparadrapo;
- As roupas de frio, pelo menos no período que eu fui (janeiro), só usei praticamente no topo e na hora de dormir. Durante as caminhadas, de dia, mesmo com temperatura mais baixa, não é preciso usar roupas de frio;
- Leve algo pra enganar a fome nos intervalos entre as refeições, tipo rapadura ou batida, barrinhas de cereal, chocolates, ou seja, algo com calorias pra te ajudar a suprir o grande desgaste das marchas. Não precisa ser nada light, afinal você está em constante esforço.
- Seja generoso a todo momento;
- Aproveite que você está sem celular nem internet e simplesmente converse, inclusive com os índios, faça amizades com estranhos e estrangeiros;
- Faça registro de tudo, filme e fotografe muuuito. Isso vai te ajudar a lembrar de tudo depois, porque são muitos detalhes;
- Ore;
- Respeite os horários de descanso para acordar bem disposto porque você precisa do seu corpo com todo "gás";
- Conserve os pés secos. A marcha com peso na mochila, por horas e horas, vai te mostrar como estar bem calçado é importante;
- Não use meias de algodão porque elas retém a umidade e isso causa bolhas;
- Quanto menos peso melhor. Acho que super-dimensionei a quantidade de roupas de frio. Podia ter levado menos. Cada grama faz diferença.
- Leve uma bateria portátil, dessas de 6.000 mA para recarregar sua máquina fotográfica e/ou filmadora;
- Dê preferência a usar câmeras à prova d'água. Existe muita água no caminho, mesmo no período que não é chuvoso. Chuvas inesperadas são frequentes.
- Não se exponha ao perigo excessivo. Você não precisa chegar na beirada do precipício para fazer fazer "aquela" foto que todo mundo vai curtir no face. Seus amigos vão curtir todas as outras fotos;
- Siga o ritmo do seu corpo nas caminhadas. Cada um tem um ritmo. Se você forçar demais para acompanhar alguém que tem melhor preparo, pode "se quebrar" logo no começo e vai levar muito mais tempo e sofrimento para completar a viagem (afinal, tem a ida e a volta);
- Todo esforço vale a pena. As paisagens, a geologia, o clima, a vegetação, a desintoxicação tecnológica, a atividade física, os perrengues, os momentos de conversa, a união, a sensação de alcançar e ultrapassar seus limites, o auto conhecimento, a natureza, tudo tudo vale à pena;

Eu fiz muitos registros em video e foto, muitos mesmo. Quem quiser ver mais, pede pra me adicionar no Facebook e abre meu álbum "Conquista de Roraima".

Isso aí, abraço a todos!!!


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